Passamos a vida acumulando, começamos de pequenos a juntar um monte de coisas, e mesmo fazendo faxinas, arrumações, tentando organizar objetos, a impressão é de que sempre tem muito mais, que vão crescendo sem a gente perceber. Até que chega um dia que nos vemos prisioneiros de nossas coisas, já não temos mais liberdade, pois tudo o acumulado depende de nós. A casa fica cheia de objetos dos quais sequer lembramos, gavetas cheias, armários lotados, só nos damos conta do que está lá quando somos obrigados a remexer nos guardados. É engraçado como "nos apegamos" a uma fita, um pedaço de papel, uma caixinha. E quando temos que decidir se aquilo continua guardado ou vai ser dado um fim a dúvida é cruel, acaba ficando para a próxima vez.
Eu já juntei e já faxinei nem sei quantas vezes as minhas casas. E pensando nisso comecei a contar em quantas casas vivi, nunca tinha parado para fazer isso e acabei de contar, levei um susto. Vou contar aqui junto com vocês.
Quando nasci meu pais moravam numa casinha da qual se mudaram quando eu tinha meses, foi aí que tudo começou! Comecei cedo e venho mudando de casas desde então.
Passei minha infância e adolescência num apartamento que ficava no térreo e tinha quintal e jardim, a rua era de terra, ficava perto do rio, lugar tranquilo do interior.
A universidade fiz em São Paulo e me mudei para a casa da minha tia, ela era viúva, morava na Pompéia a minha faculdade ficava, e fica nas Perdizes, isso eram os anos 70.
Me casei e nos primeiros meses moramos numa travessa da Brigadeiro Luiz Antonio, na Liberdade, pouco tempo depois fomos para um apartamento na rua Antonia de Queirós, travessa da rua da Consolação. Por causa do trabalho do meu marido (primeiro marido) tivemos que voltar para o interior, tínhamos um filho, fomos morar num apartamento na minha cidade natal enquanto ele trabalhava numa cidade vizinha. Com a chegada do segundo filho nos mudamos para uma casa, passado um tempo decidimos mudar de cidade para ficar perto do trabalho e fomos para uma casa num bairro residencial. Já tínhamos até então acumulado algumas coisas, poucos móveis e muitos objetos, livros, quadros. Naquela época tanto ele como eu íamos ã São Paulo algumas vezes por semana por causa de estudos, com as duas crianças pequenas achamos mais seguro moramos num apartamento e lá fomos para mais outra mudança.
Neste ponto - primeira metade dos anos 80 - acaba o meu primeiro casamento, tive que ir com os meninos para um apartamento menor.
Depois de uns anos casei e mudei! Fui morar em outra cidade do interior, numa casinha simpática, antiga, apertada para nós que começamos já com a familia grande, eu com dois meninos, ele com uma menina e logo fiquei grávida. E assim nossos quatro filhos cresceram nessa casa que foi se modificando ao longo dos anos, fiz algumas reformas e adaptações, foi a casa que mais tempo viví depois de adulta. Mas o dia da mudança chegou contra nossa vontade, alí foi construído um prédio e a simpática rua de casinhas geminadas onde as crianças brincavam na calçada desapareceu. A outra casa era maior, meus sogros vieram morar conosco, ele estava doente e acabou falecendo nesta casa. Os três filhos mais velhos estudavam fóra, vinham de vez em quando para nos ver, a casa foi ficando grande. Os dois filhos mais velhos mudaram-se para o exterior, casaram-se, o mais novo estava fazendo intercâmbio e nós nos mudamos para a ultima casa do segundo casamento.
Separei-me e fui morar num apartamento muito agradável com meu filho caçula, o outro já estava morando sozinho no apartamento dele. Depois de um ano fui com minha mudança para São Paulo, morar no apartamento que meu irmão emprestou. A esta altura muitas coisas já tinham ficado pelo caminho, já tinham sido distribuídas. Como meus filhos estudaram fóra e moraram em repúblicas, lá se foram alguns móveis, objetos, utensílios.
Quando voltei para morar em São Paulo minhas coisas estavam reduzidas, mas ainda eram muitas coisas. Em menos de um ano morei em três lugares diferentes até que fui para a Bahia e lá passei um ano. Voltando fiquei uns meses na casa de um amigo até vir para onde estou agora escrevendo este texto, e com uma lista de imobiliárias para ligar amanhã aqui do meu lado. Isso mesmo, vou fazer mais uma mudança dentro de poucos dias, nem sei para onde vou ainda.
Minha mãe que costuma brincar, diz que eu sou especialista em mudanças.
Contaram em quantas casas eu já vivi? E isso sem contar o tempo que passei em Roma e Aracaju. Pois bem, são vinte residências onde fiz a minha história até agora e estou partindo para a vigésima primeira. Minhas coisas atualmente são poucas mesmo, exceção dos livros, que são bastante, vou ter que encaixota-los, isso é uma trabalheira, mas não tenho mais cristais e porcelanas, nem toalhas de linho, nem móveis, nem mesmo uma cama, durmo num colchão no chão. Quero viver simplesmente, uma vida despojada, rodeada de coisas essenciais para o mínimo conforto e prazer, não quero nada que me tire a liberdade. Eu não vou mais 'cuidar de casa' como diziam os antigos, quero um lugar prático e aconchegante, onde eu possa viver a minha paz.
(na foto um pedacinho da minha estante de livros para encaixotar)
4 comentários:
Ju, nem uma caminha dobrável? Então você não tem coluna.
sou bem flexivel Ana!
pois quando eu sofri o acidente e desloquei a patela, usava muletas e consegui deitar no colchão no chão!
rs... mas agora tenho uma cama boa!
Ah, amiga, como eu gostaria de mudar de novo...rs....Adoro mudanças, gosto até da confusão do momento da mudança, da chegada em outro lugar, da sensação do novo...Minha mãe tinha tanta ânsia de mudanças, que mudava os quartos em casa. A casa era muito pobre, mas muito grande. Íamos pra escola e quando voltávamos, já estávamos em quartos diferentes. ERa maravilhoso. Víamos o mundo de outra janela... E essa ânsia me acompanha, por isso vivo pra lá e pra cá, mas quero muito ir pra um lugar totalmente novo. Sei que ainda vamos fazer isso. Boa sorte, minha amiga.
Se tem um móvel que eu gosto é estante!
De todo jeito...amo estantes. E a forma como são organizados os apetrechos lá dispostos!
As vezes bagunça...as vezes meticulosamente organizados...
Lindo o seu escrito.
A começar da foto!
Gosto de ler histórias como essa.
DE VIDA! REAL!
beijo menina!
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