19 de abril de 1940 foi a data em que os delegados indígenas se reuniram pela 1ª vez em assembléia no Congresso Interamericano. Todos os países da América foram convidados a participar dessa celebração.
Reunida em Patzcuaro (México), a assembléia aprovou, entre outras propostas, o estabelecimento do Dia do Índio pelos governos dos países americanos. Este dia seria dedicado ao estudo do problema do índio atual pelas diversas instituições de ensino.
Um pouco da origem de nossa língua
Apesar da maioria dos brasileiros ter a impressão de viver em um país onde só se fala o português, o Brasil é na verdade um mosaico de idiomas: nele são aprendidas como línguas maternas cerca de 200 línguas. Alguns completamente exógenas como, por exemplo, algumas línguas européias (dialetos alemães ou ucranianos falados por comunidades no sul do país). A maioria dessas outras línguas, no entanto, são indígenas.
O tupi era a língua indígena mais falada no tempo do descobrimento do Brasil, em 1500. Teve sua gramática estudada pelos padres jesuítas, que a registraram. Era também chamada de língua Brasílica. O padre José de Anchieta publicou uma gramática, em 1595, intitulada Arte de Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil.
O tupi é considerado extinto hoje e deu origem a dois dialetos, considerados línguas independentes: a língua geral paulista e o nheengatú (língua geral amazônica). Esta última ainda é falada até hoje na Amazonia .
Apesar de suas muitas transformações, o Nheengatú continua sendo falado nos dias de hoje, especialmente na bacia do rio Negro (rios Uaupés e Içana). Além de ser a língua materna da população cabocla, mantém o caráter de língua de comunicação entre índios e não-índios, ou entre índios de diferentes línguas.
A língua tupi é aglutinante (uma frase é dita em uma palavra), não possui artigos, como o Latim e não flexiona em gênero e nem em número. Um bom exemplo do tupi é: Paranapiacaba = parana+epiaca+caba, mar+ver+lugar+onde. Ou, lugar de onde se vê o mar, a vila fica a 40km de São Paulo, bem na Serra do Mar e de lá se avista a Baixada Santista.
O tupi é a língua indígena mais bem-documentada e preservada que temos, e é importante para se entender a cultura brasileira. “O brasileiro já nasce falando tupi, mesmo sem saber".
O português falado em Portugal diferencia-se do nosso principalmente por causa das expressões em tupi que incorporamos. Essa incorporação é tão profunda que nem nos damos conta dela. Mas é isso o que faz a nossa identidade nacional. Depois do português, o tupi é a segunda língua a nomear lugares no País.
A lista de nomes é extensa e continua aumentando. Há milhares de expressões, como:
- Ficar com nhenhenhém – que quer dizer falando sem parar, pois nhe’eng é falar em tupi.
- Chorar as pitangas – pitanga é vermelho em tupi; então, a expressão significa chorar lágrimas de sangue.
- Cair um toró – tororó é jorro d’água em tupi, daí a música popular “Eu fui no Itororó, beber água e não achei”.
- Ir para a cucuia - significa entrar em decadência, pois cucuia é decadência em tupi.
- Velha coroca é velha resmungona – kuruk é resmungar em tupi.
- Socar – soc é bater com mão fechada.
- Peteca - vem de petec que é bater com a mão aberta.
- Cutucar - espetar é cutuc.
- Sapecar - é chamuscar é sapec, daí sapecar e sapeca.
- Catapora – marca de fogo, tatá em tupi é fogo.
O significado de grande parte dos nomes de lugares só se sabe com o tupi. Como nomes de bairros da cidade de São Paulo.
- Pari é canal em que os índios pescavam,
- Mooca é casa de parentes,
- Ibirapuera é árvore antiga,
- Jabaquara é toca dos índios fugidos,
- Mococa é casa de bocós – bocó é tupi.
Na fauna e flora brasileiras, o tupi aparece massivamente: tatu, tamanduá, jacaré. Até nas artes ele é encontrado – como o famoso quadro de Tarsila do Amaral, o Abaporu, que quer dizer antropófago (canibal) em tupi. Apesar do tupi ser uma língua morta, é também uma língua clássica, pois foi fundamental para a formação de uma civilização, assim como o foram o latim, o sânscrito e o grego, que é uma língua clássica ainda falada. O tupi foi fundamental também para a unidade política do Brasil.
Fonte: Sylvia Estrella. "HowStuffWorks - Quantas línguas indígenas se falam no Brasil?".
Fonte: Sylvia Estrella. "HowStuffWorks - Quantas línguas indígenas se falam no Brasil?".
Um comentário:
É impressionante e lamentável como nós, os brasileiros, vivemos à margem dessa realidade indígena. Há uma grande sabedoria que se perdeu no tempo:idiomas, costumes, rituais...Está mais do que na hora de tomarmos consciência do estrago que foi feito com as diversas culturas indígenas no Brasil e passarmos a olhá-las com mais respeito e consideração.
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