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Antonio



Não podia passar despercebido a meus olhos ocidentais, seja pelo tamanho, seja pela insólita figura.
Curiosamente, chamava-se Antonio e tinha dentes enormes e encavalados. Mesmo assim, teimava em exibi-los num meio sorriso estranho, misto de cacoete e de enfado.
Embora compusesse perfeitamente a paisagem do deserto, aquele encontro foi para mim mais do que inusitado.
O velho o conduzia com a paciência de um sábio e, ao perceber meu visível encantamento, aproximou-se com sua fala enrolada.
De tudo que me disse, compreendi que me oferecia a possibilidade de tirar uma foto ao lado do camelo, cujo nome, se compreendi bem, era Antonio.
Assenti com entusiasmo, mas logo percebi que não era para tanto.
Sem perder tempo, o homenzinho determinou a Antonio que se ajoelhasse e, num só gesto, colocou-me agilmente sobre a corcova do animal, que, de imediato, retomou sua altura e se pôs a andar mais do depressa, de um jeito desengonçado e irregular.
Completamente apavorada, em cima daquele bicho enorme, comecei a gritar deseperada para descer dali, enquanto o velho árabe parecia divertir-se muito com a situação.
Antonio, porém, foi mais sensível e, poucos metros à frente, empacou no meio da areia, abaixando-se, cuidadosamente, para que eu descesse dele sem cair.
Sem perder tempo, o dono do animal veio correndo em minha direção, falando e gesticulando muito.
Então, num inglês perfeito, cobrou-me por essa aventura nada menos do que dez dólares...



( Izilda Bichara/Escritos esparsos/ 19/02/2008 )

4 comentários:

Unknown disse...

Zi,mas você é corajosa! Quando vi o "pequenino" na minha frente, a primeira coisa que fiz foi sair de perto bem rapidinho. Que foto que nada! Credo! rsrsrs
Bjs

Walkiria disse...

Que aventura mais deliciosa. Fiquei imaginando o seu pavor, pensando em cair da córcova do camelo.
E que natureza mais gentil a do Antonio!

Anhuska disse...

Que falta de sensibilidade a minha, pois nem me passou pela cabeça que aquele animal pudesse ter um nome.

Em janeiro de 2006, no Negev ou Neguev,sei lá, "meu" pobre camelo tinha sob as longas pestanas, um olhar de profunda tristeza. Isso antes da voltinha; depois, o olhar foi de puro alívio.

Caminhar pendulando até que não é tão ruim. Duro mesmo é conseguir não cair com a chacoalhada que se leva quando o bichinho levanta.

Zi, obrigada duplamente:pela sua narrativa deliciosa e pelas lembranças que me trouxe à tona.

Unknown disse...

me parece que valeu os 10 dolares, faz parte de suas boas lembranças e rendeu um belo post!