BLOG COLETIVO, os temas são variados.
Tudo começou em 2004 numa comunidade de gente 'madura' do orkut, aos poucos cresceu a amizade e sintonia, apesar de vivermos em diferentes lugares. Participamos da comunidade fechada Jiló com Miolo no orkut, no Facebook, e no blog mostramos nosso 'espírito jiló'.

Cidade grande e eu...

Me mudei pra SP em 1977, vinda de Minas, mais caipira que Jeca Tatu, vinda de tradicional família presbiteriana e patriarcal. Fomos morar em São Bernardo do Campo.


Fui sozinha pra São Paulo pela primeira vez, numa tal Rua Mello Alves, comprar os móveis de quarto das minhas filhas, que cismaram com móveis azuis...

Naquele tempo era difícil achar, e eu havia encontrado um modelo que elas gostaram na revista Casa Cláudia.

Lá fui eu...

Andei horas, naquela muvuca típica de Sampa, e já no fim da tarde, pensando nos 3 ônibus que teria que pegar e nas quase 3 horas de viagem de volta, resolvi procurar uma loja onde pudesse me sentar um pouco e descansar.

(Moça de família mineira, filha do S. Antonio, entrar num boteco? jamais!!)

Procurei primeiro uma loja de sapatos, decidida a experimentar toda a loja até que me sentisse pronta pra aventura da volta pra casa. Nadaaaaaaa...

De repente vejo, do outro lado da rua uma loja de lingerie.
YESSSSSS!!
Servia... ia ficar enrolando ali um tempo, escolhendo...
Atravessei a rua e entrei na loja, e...

ERA UM SEX SHOP!

Quando me dei conta, estava cercada de toda aquela parafernália erótica, pinto de todo tamanho, forma, cor... tinha vela em forma de pinto, tinha almofada, tudo e mais um pouco. Tinha até uma coluna em forma de pinto, quase do meu tamanho!

Gente, eu nem sabia que existia esse negócio de sex shop...Nem nos meus mais doidos delírios imaginaria tal coisa.

E a loja estava cheia... lá no fundo uns 3 rapazes conversavam com algumas moças, rindo, bem desencanados.

E eu paralisada no meio da loja, estática e estupefata, mergulhada naquela pintaiada toda!!!

Através da vitrine eu via o movimento da rua, e me imaginava saindo da loja e a rua inteira me olhando...
- Capaz de dar no Jornal Nacional...
- Vou ser apedrejada como Maria Madalena!
- E se meu pai aparecesse? (o pobre lá em Minas, mas o medo era maior que a lógica).
- Pelo menos ninguém aqui dentro me viu... AINDA!- ooops! Pensei cedo demais... lá vem o vendedor, e era um HOMEEEEM!!...

- Jesusmedefenda, me tira daqui, socorro minhanossasinhora!


Pensei rápido, e saquei meu mais "classudo" sorriso, tentando parecer uma assídua frequentadora daquele tipo de loja.
O rapaz, todo sorridente, se esforçava pra arrancar uma palavra minha, mas não saía nada....

Eu só dava aquele sorriso enigmático, meio Mona Lisa, tentando parecer indiferente à tudo.

Depois de muito o rapaz insistir, me senti no dever de dizer algo, mas contato visual em hipótese alguma, claro!

Eis que surge a idéia brilhante(Aahaaaaaaa! não contava com minha astúcia!)...
Claro!

Disse, com o ar mais neutro possível, que estava procurando um presente para o marido!!

FUDEU TUDO!

O rapaz se empolgou... sugeria objetos até então inimagináveis pra minha pobre cabecinha mineirinha em pleno 1977...

Um pinto duplo!!!!!! meudeusquiéissoooo?

e as roupitchas? Senhordocéu!

De repente vislumbrei uma saleta onde era o que parecia uma livraria. Prateleiras de revistas, livros, filmes (super 8 naquele tempo pré-video cassete)...

Parecia uma zona segura...

Pelo menos eu sairia do meio daquele monte de pintos espalhados no balcão...

Disparei pra saleta, deixando o rapaz arrumando toda a bagunça que ele mesmo havia feito.

- Calma.... respira... você vai ter que sair daqui... a loja vai fechar... as crianças vão chegar da escola... o que eu vou fazer pro jantar? E se eu comprar uma coisinha qualquer, Nestor nunca mais me deixa sair de casa...-

Eu pensava tudo ao mesmo tempo, misturado com a visão do meu pai passando pela rua e me vendo ali dentro.

Volta o rapaz...

- Ah... safadinho seu marido, né? gosta de revista? filmes? Livros?? AAHHHHHH! eu tenho um livro fantásticoooooooo... acabou de chegar.

Olhei pra capa do livro.. o nome era O PÊNIS!

(Cumaaaaa??)

Claro que a ilustração era um monumental instrumento fálico, né? E dá-lhe pinto....

Com meu último suspiro de lucidez, olhei com desdém para o livro e disse:

- Não, obrigada, meu marido já tem!

Saí da loja mais rápido que Superman e até hoje dou risada quando passo por aquela rua.

ô situação ridículaa!

Em tempo: hoje eu sou mais espertinha, tá?




6 comentários:

Unknown disse...

muito boa sua história Beth, além do enredo vc sabe contar histórias! (deveria fazer um blog mesmo)

e eu fiquei aqui imaginando...1977... na Melo Alves?... passava muito por lá... que loja seria essa?

Vivi Damásio disse...

Que delícia de texto, Beth!!!!
Lembrei que você tinha um cantim onde escrevia umas coisas ótimas, cadê aqueles textos?
Devia mesmo colocar tudo em um blog....

Cassia disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


Você DEVE escrever mais!!!!!!!!

Ótimo texto, Betoca.

Anônimo disse...

Adorei!!

Humor, recordação.

Nota 10.

Anhuska disse...

PERAÍ! Explica isso melhor. O que foi que aconteceu entre 1977 e 2009 para que a caipira mudasse tanto?
O pai é o mesmo. As filhas são as mesmas.O marido é o mesmo.
Como foi possível mudar tanto?

Contos de Réu disse...

Beth...além de fantástica é REAL!
Vc lendo a história, mesmo sem lhe ocnhecer, parece que eu escutava vc contando.

Super!!!!!!!!!!!

PS- Que bom que vc está mais espertinha...