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Resgate

Pela manhã, ao se olhar no espelho, admitiu que, a cada dia, ficava mais parecida com ela.

A expressão tranqüila e os vincos no rosto, moldados pelos anos, imprimiam-lhe o mesmo ar de sabedoria e segurança.

Lembrou-se, imediatamente, de como era bom brincar com o pote de botões de todas as cores, formatos e tamanhos e com linhas, dedais e retalhos da caixinha de costura de madeira forrada com tecido púrpura.

Ah! E as infinitas descobertas nas caixas de papelão, guardadas nas gavetas com cheiro de naftalina? Echarpes de seda; livros de oração, com páginas estufadas por flores secas; apliques de renda; vidrinhos coloridos de perfume já vazios; cartas amareladas escritas a pena e até o fascinante baralho italiano de tarô...

Eram objetos sagrados e proibidos, que a curiosidade infantil não conseguia respeitar.

Ainda no espelho, perfumou-se toda de alfazema e sorriu satisfeita.

A seguir, desceu as escadas, exultante, e foi consultar o velho livro de receitas da avó.

Naquele dia, seus netos comeriam bolinhos de chuva...



(Izilda Bichara/Escritos Esparsos/28/01/2005)

6 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

sabe, eu à vezes olhando no espelho veja a minha mãe, as vezes uma avó, as vezes a outra avó... tenho um pouco de cada uma.

as mulheres da nossa vida deixam marcas em nós além da genética, é a convivência, o aprendizado, o carinho... a delicadeza das caixinhas e gavetas... os sabores saindo da cozinha... somos o que herdamos delas.

muito inspirado seu texto!

Anhuska disse...

Lindo Zi!

Vicky disse...

Zi,
Me vejo nesse texto.

E revivi tudo isso ao ter de cuidar das coisas da minha mae quando ela se foi...

Fiquei um tempao nos botoes, dedais, tesourinhas antigas, pedacinhos de "amostras" de croche, nao consegui me desfazer disso, e guardei o livro de receitas, as tolhas da Ilha da Madeira, as tacinhas de licor...

Angela Cunha disse...

muito lindo texto...
delicado, sensível, feminino...

parabéns!

Flut

Merciasz disse...

Zi,


que saudades de minha mãe.

lindo texto!