BLOG COLETIVO, os temas são variados.
Tudo começou em 2004 numa comunidade de gente 'madura' do orkut, aos poucos cresceu a amizade e sintonia, apesar de vivermos em diferentes lugares. Participamos da comunidade fechada Jiló com Miolo no orkut, no Facebook, e no blog mostramos nosso 'espírito jiló'.

Amigas


Segunda-feira, 7 e 15 da manhã. Elas batem papo animadamente enquanto esperam a abertura do supermercado, às 7 e meia. São sempre as primeiras clientes a entrar. Lá dentro, escolhem frutas e verduras com cuidado; poucas, mas bem selecionadas. No balcão de frios pedem apenas “mezz’etto” (cinquenta gramas) de presunto cru ou coppa. Pães, apenas dois. Quando chegam ao caixa agem como se não se conhecessem. A primeira leva sempre uma sacola de pano; a outra, lhe torce o nariz e prefere os sacos plásticos vendidos a cinco centavos de euro, que ela diz reaproveitar. Parte do ritual, a moça no caixa pergunta:

– Quantos sacos?

– Um só. – Responde.

– Olha que não cabe…

– Eu só pago um. Dou um jeito de caber.

A caixa lhe dá um saco, que ela, ao tentar abrir, descobre serem dois. Ela olha para a caixa – que finge uma cara séria – e diz, dando de ombros:

– É o destino…

A caixa pisca para o cliente seguinte, espectador da cena divertida. Ela divide a compra nos dois sacos e sai.

Caminham devagar até a rua onde moram, comentando as notícias do jornal da manhã, as receitas do dia anterior, os prazeres e desprazeres dos netos, gatos, filhos, maridos, noras, vizinhos e políticos locais. Nessa ordem. Planejam o almoço com os produtos frescos que encontraram. Voltarão à tarde para escolher o jantar. À noite, depois de arrumadas as cozinhas e os maridos, sentarão à mesa que elas mesmas colocaram embaixo da árvore, na pracinha do bairro, e jogarão briscola com as outras amigas. Até às 11, 11 e meia, quando o calor desses dias é substituído por uma brisa fresca, que permite abrir as janelas e refrescar um pouco as casas antes de dormir.

Até sexta-feira a rotina não muda. Ou muda pouco, com alguma consulta médica ou um novo dentinho de um neto a ser comentado. Quem separou de quem, a briga de madrugada no bar, uma relação extra-conjugal do político da vez ou a mocinha que tenta fazer carreira do modo mais fácil são assuntos corriqueiros, mesmo que não passem de invenções só para ter assunto.

Sábado é il giorno di mercato (o dia da feira). Saem cedo para escolher peças de roupas selecionadas com a mesma atenção que merecem as frutas e verduras no supermercado. Saem cedo para não serem vistas pelas amigas. Voltarão mais tarde para comprar temperos, frutas, queijo, produtos biológicos e alguma peça para substituir no fogão quebrado. Nesse momento, fazem questão de parar para conversar com quem encontram, mesmo que isso atrase o almoço. Afinal, é sábado.

Domingo é dia de missa. Passaram a tarde de sábado preparando a massa que servirão no almoço das respectivas famílias. O dia correrá calmo mas rico de novidades, como o sermão do padre endereçado a algum pecador, ou a nova asneira de uma das noras. Elas se encontram na pracinha e caminham para a igreja, meia hora antes do padre. Dentro da igreja, deixam aos jovens todo o auxílio à preparação da cerimônia. Permanecem sentadas no primeiro banco, conversando em voz baixa até que a igreja fique lotada e o padre inicie a missa. Os cotovelos impedem que qualquer um lhes tire a honra de receber a comunhão antes dos demais fiéis. Saem às pressas, como se atrasadas. Sentam-se em uma das mesinhas do café na praça principal e tomam um café demorado. Às vezes um pedaço de crostatta di marmelatta. Voltam para casa – conversando sempre – e se despedem. O domingo com a família se prolongará até a hora de dormir e cada uma estará presa com os próprios netos, filhos, gatos, maridos, noras. Nessa ordem. Mas amanhã é segunda-feira e a vida recomeça.

2 comentários:

Allan Robert P. J. disse...

Não consigo comer jiló, mas como não simpatizar com uma turma alto astral assim?

Juju,
Muito obrigado pela canja. Espero que os leitores do blog se divirtam.

Abração

Juju disse...

a medida que vamos lendo o texto vamos acompanhando as personagens, parece que estamos ao lado delas, dá até pra sentir o cheiro do café...

me encantei com este texto e gosto muito de ler o Allan na Carta da Itália.