
Segunda-feira, 7 e 15 da manhã. Elas batem papo animadamente enquanto esperam a abertura do supermercado, às 7 e meia. São sempre as primeiras clientes a entrar. Lá dentro, escolhem frutas e verduras com cuidado; poucas, mas bem selecionadas. No balcão de frios pedem apenas “mezz’etto” (cinquenta gramas) de presunto cru ou coppa. Pães, apenas dois. Quando chegam ao caixa agem como se não se conhecessem. A primeira leva sempre uma sacola de pano; a outra, lhe torce o nariz e prefere os sacos plásticos vendidos a cinco centavos de euro, que ela diz reaproveitar. Parte do ritual, a moça no caixa pergunta:
– Quantos sacos?
– Um só. – Responde.
– Olha que não cabe…
– Eu só pago um. Dou um jeito de caber.
A caixa lhe dá um saco, que ela, ao tentar abrir, descobre serem dois. Ela olha para a caixa – que finge uma cara séria – e diz, dando de ombros:
– É o destino…
A caixa pisca para o cliente seguinte, espectador da cena divertida. Ela divide a compra nos dois sacos e sai.
Caminham devagar até a rua onde moram, comentando as notícias do jornal da manhã, as receitas do dia anterior, os prazeres e desprazeres dos netos, gatos, filhos, maridos, noras, vizinhos e políticos locais. Nessa ordem. Planejam o almoço com os produtos frescos que encontraram. Voltarão à tarde para escolher o jantar. À noite, depois de arrumadas as cozinhas e os maridos, sentarão à mesa que elas mesmas colocaram embaixo da árvore, na pracinha do bairro, e jogarão briscola com as outras amigas. Até às 11, 11 e meia, quando o calor desses dias é substituído por uma brisa fresca, que permite abrir as janelas e refrescar um pouco as casas antes de dormir.
Até sexta-feira a rotina não muda. Ou muda pouco, com alguma consulta médica ou um novo dentinho de um neto a ser comentado. Quem separou de quem, a briga de madrugada no bar, uma relação extra-conjugal do político da vez ou a mocinha que tenta fazer carreira do modo mais fácil são assuntos corriqueiros, mesmo que não passem de invenções só para ter assunto.
Sábado é il giorno di mercato (o dia da feira). Saem cedo para escolher peças de roupas selecionadas com a mesma atenção que merecem as frutas e verduras no supermercado. Saem cedo para não serem vistas pelas amigas. Voltarão mais tarde para comprar temperos, frutas, queijo, produtos biológicos e alguma peça para substituir no fogão quebrado. Nesse momento, fazem questão de parar para conversar com quem encontram, mesmo que isso atrase o almoço. Afinal, é sábado.
Domingo é dia de missa. Passaram a tarde de sábado preparando a massa que servirão no almoço das respectivas famílias. O dia correrá calmo mas rico de novidades, como o sermão do padre endereçado a algum pecador, ou a nova asneira de uma das noras. Elas se encontram na pracinha e caminham para a igreja, meia hora antes do padre. Dentro da igreja, deixam aos jovens todo o auxílio à preparação da cerimônia. Permanecem sentadas no primeiro banco, conversando em voz baixa até que a igreja fique lotada e o padre inicie a missa. Os cotovelos impedem que qualquer um lhes tire a honra de receber a comunhão antes dos demais fiéis. Saem às pressas, como se atrasadas. Sentam-se em uma das mesinhas do café na praça principal e tomam um café demorado. Às vezes um pedaço de crostatta di marmelatta. Voltam para casa – conversando sempre – e se despedem. O domingo com a família se prolongará até a hora de dormir e cada uma estará presa com os próprios netos, filhos, gatos, maridos, noras. Nessa ordem. Mas amanhã é segunda-feira e a vida recomeça.
– Quantos sacos?
– Um só. – Responde.
– Olha que não cabe…
– Eu só pago um. Dou um jeito de caber.
A caixa lhe dá um saco, que ela, ao tentar abrir, descobre serem dois. Ela olha para a caixa – que finge uma cara séria – e diz, dando de ombros:
– É o destino…
A caixa pisca para o cliente seguinte, espectador da cena divertida. Ela divide a compra nos dois sacos e sai.
Caminham devagar até a rua onde moram, comentando as notícias do jornal da manhã, as receitas do dia anterior, os prazeres e desprazeres dos netos, gatos, filhos, maridos, noras, vizinhos e políticos locais. Nessa ordem. Planejam o almoço com os produtos frescos que encontraram. Voltarão à tarde para escolher o jantar. À noite, depois de arrumadas as cozinhas e os maridos, sentarão à mesa que elas mesmas colocaram embaixo da árvore, na pracinha do bairro, e jogarão briscola com as outras amigas. Até às 11, 11 e meia, quando o calor desses dias é substituído por uma brisa fresca, que permite abrir as janelas e refrescar um pouco as casas antes de dormir.
Até sexta-feira a rotina não muda. Ou muda pouco, com alguma consulta médica ou um novo dentinho de um neto a ser comentado. Quem separou de quem, a briga de madrugada no bar, uma relação extra-conjugal do político da vez ou a mocinha que tenta fazer carreira do modo mais fácil são assuntos corriqueiros, mesmo que não passem de invenções só para ter assunto.
Sábado é il giorno di mercato (o dia da feira). Saem cedo para escolher peças de roupas selecionadas com a mesma atenção que merecem as frutas e verduras no supermercado. Saem cedo para não serem vistas pelas amigas. Voltarão mais tarde para comprar temperos, frutas, queijo, produtos biológicos e alguma peça para substituir no fogão quebrado. Nesse momento, fazem questão de parar para conversar com quem encontram, mesmo que isso atrase o almoço. Afinal, é sábado.
Domingo é dia de missa. Passaram a tarde de sábado preparando a massa que servirão no almoço das respectivas famílias. O dia correrá calmo mas rico de novidades, como o sermão do padre endereçado a algum pecador, ou a nova asneira de uma das noras. Elas se encontram na pracinha e caminham para a igreja, meia hora antes do padre. Dentro da igreja, deixam aos jovens todo o auxílio à preparação da cerimônia. Permanecem sentadas no primeiro banco, conversando em voz baixa até que a igreja fique lotada e o padre inicie a missa. Os cotovelos impedem que qualquer um lhes tire a honra de receber a comunhão antes dos demais fiéis. Saem às pressas, como se atrasadas. Sentam-se em uma das mesinhas do café na praça principal e tomam um café demorado. Às vezes um pedaço de crostatta di marmelatta. Voltam para casa – conversando sempre – e se despedem. O domingo com a família se prolongará até a hora de dormir e cada uma estará presa com os próprios netos, filhos, gatos, maridos, noras. Nessa ordem. Mas amanhã é segunda-feira e a vida recomeça.
2 comentários:
Não consigo comer jiló, mas como não simpatizar com uma turma alto astral assim?
Juju,
Muito obrigado pela canja. Espero que os leitores do blog se divirtam.
Abração
a medida que vamos lendo o texto vamos acompanhando as personagens, parece que estamos ao lado delas, dá até pra sentir o cheiro do café...
me encantei com este texto e gosto muito de ler o Allan na Carta da Itália.
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